quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Anotações acerca da Suma contra os gentios de Tomás de Aquino

As questões e razões acerca do diálogo Fé e Razão. Ou, em outros termos: relação entre Teologia e Filosofia em Tomás de Aquino.

A comunicação entre Filosofia e teologia é útil porque é a teologia quem nos oferece o princípio e telos de todas as coisas. Assim, o ofício do sábio que é de ordenar, ganha plenitude quando ele é capaz de encontrar a finalidade de todas as coisas. Tal finalidade só pode ser conhecida quando se sabe quem é o fazedor das coisas. E aqui o telos coincide com o princípio, na bela imagem grega do círculo.
 A razão humana é limitada, principalmente no trato com o divino. Mas é, no entanto, o instrumento de que dispomos, tendo a grande vantagem de ser comum a todos. A filosofia é a principal aliada para o plano soteriológico cristão, pois salvar-se é fugir da vaidade do mundo e alcançar a verdade que não muda, nem perece e que chega a todos. Assim, a filosofia pode apresentar frutos espirituais e pode nos ajudar a escapulir de um mundo vão. Não se exige muito esforço intelectual perceber que as criaturas são nada! Ademais, a filosofia, por ser universal, permite o diálogo entre os homens, ainda que, para Tomás de Aquino, a verdade coincida com a fé católica. Ora, esse valor e alcance da filosofia são extremamente limitados. Existe, assim, aquelas verdades as quais a razão tem capacidade de alcançar e aquelas que ela não tem. O caráter duplo da verdade reside não na natureza da verdade, mas de diferentes fontes das quais ela brota.
É preciso, assim, uma comprovação de que existam verdades que não são do alcance da razão. Assim, justifica-se de que exista o incognoscível. E isso ocorre porque: a) o método de conhecimento decorre da natureza do objeto investigado; b) existe a experiência daquilo que não é sensível, como a liberdade; c) o conhecimento de alguns atributos por analogia não significa, no entanto, conhecimento em plenitude desses atributos; d) temos ao mesmo tempo a constatação dos limites da razão e, ao mesmo tempo, da inesgotabilidade do conhecimento.
Ora, a verdade se manifesta. No entanto, quem conseguiu chegar a ela? Esse trabalho é árduo e nossa natureza é corrompida. Só a clemência divina nos proporciona segurança em meio às trevas. Vivemos em meio a muitos erros e em meio a discordância de opiniões. Assim, a própria razão é fonte também de erros e distorções no caráter da verdade.
Se a razão é o instrumento de que o homem dispõe, deve bastar para satisfazer suas necessidades, isto é, plenificar sua vida. No entanto, Tomás de Aquino defende que o homem está destinado a coisas mais altas do que as que pode alcançar nesta vida; para que as deseje há que dar-se a conhecer. O que a razão pode descobrir está muito longe do que Deus é, assim, o homem deve investigar o que se ajusta à sua capacidade de conhecimento e o que não se ajusta. Há maior satisfação no perfeito tocado do que no imperfeito possuído. A razão se sente atraída para além dos limites de sua capacidade de conhecer. Destarte, a filosofia, por mais bela que seja é ultrapassada por algo maior do que ela. Deus é o inefável e sua meta não é ajustar-se à nossa compreensãoA teologia negativa vem para rebaixar a razão.
Os que aceitam as verdades reveladas não crêem rápido demais? Para Tomás de Aquino, há dois tipos de crentes: a) os que crêem porque o que se predica se acomoda bem aos seus desejos; b) os outros que crêem ainda que sacrificando pela crença sua natureza posto que receberam sinais suficientes para a adesão de sua fé. Na classe a) estão os seguidores de Maomé. Para Tomás, o fato do islamismo prometer um paraíso sensível explica o êxito dessa religião. A segunda, que condiz à fé cristã, só é compreensível pela força dos signos cristãos. É um verdadeiro milagre que o homem consiga desprezar os bens sensíveis. Essa é a força do cristianismo.
Segundo Tomás, precisamos investigar porque alguns filósofos caíram na confusão de pensar que razão e fé sejam contrárias. A) o fato da revelação superar a razão só diz que a primeira é mais completa do que a segunda e não que sejam rivais; B) seria um absurdo que o mesmo Deus que colocou na alma os princípios da razão, venha contradize-los pela revelação; C) e decorre disso que assim convenceria os homens nunca pelo entendimento, senão pela força. Assim, argumentos contra a razão são também argumentos contra a fé.
As verdades da revelação são fonte especial de conhecimento. Elas são dadas por Deus através dos efeitos de sua ação criadora e todo agente produz algo que se lhe parece. O verdadeiro saber se alcança no abismamento no que é sem princípio e no reconhecimento de que existe o incompreensível. Dito em outros termos: nem tudo está em nosso poder.
Rochelle

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