sábado, 20 de agosto de 2011

amar ao amor, como ensinou Francisco de Assis

Onde está o amor? Essa é uma pergunta complicada ou simples? É fácil ver o amor de pais e filhos, o amor entre amigos. O amor é um fenômeno ou é um númeno? Há o amor em si?
Essa é talvez a questão do cristianismo. O cristianismo aposta que há sim o amor em si. O amor em si é o princípio criador. O amor em si precisou encarnar-se para sentir na carne o sofrimento dos seres amados. Não, não reduzamos o cristianismo a uma série de preceitos morais que, no fundo, procuram apenas ser meios de ajustar os homens a um tipo de obediência e comportamento que são, no fundo, o oposto do cristianismo. Ser cristão é apostar. Esse apostar não é um ato isolado que eu exerço agora e que daqui a duas horas não sofro as conseqüências. Apostar é continuar apostando. Apostar é saber que não se pode abandonar o jogo e que o peso dessa escolha recai apenas sobre ti, sobre tuas escolhas, sobre teu próprio destino eterno. Portanto, é preciso, para o cristão, apostar no amor em si. Não as manifestações de amor de predileção, como aqueles dos pais pelos filhos, ou os que temos pelos amigos. Jesus quando disse: amai vossos inimigos, estava dizendo nada mais do que isso: "Amai o amor, o amor em si, pois a manifestação mais correta do amor é aquela que tem predileção apenas ao amor, ao ato de amar e não escolhe esse ou aquele para amar. Amai! principalmente aos vossos inimigos pois é por eles que tu perceberás que teu amor é uma devoção sincera ao amor em sim, uma devoção cuja escolha é eterna e inegociável. Amai o amor, devotai-lhe a vida, pois é o amor quem cria e sustenta todas as coisas. Todo o resto lhe será dado por acréscimo, segundo as suas necessidades”.
Longe de ser uma religião para fracos, para os que estão em fuga, para os covardes, a mensagem cristã de amor incondicional ao amor em si, é um apelo à força de alma, ao enfrentamento sem medo e a aposta no amor, ainda que se enfrente qualquer risco, mesmo o risco de morte. Não esperemos que sejam as instituições cristãs as maiores provas desse amor, pois nem todos os homens que as compõem possuem esse mesmo grau de compreensão de sua fé. Esperemos isso de nós, apenas de nós.
Vejam se ama o amor quem maquina em seu coração projetos de vingança. Veja se ama o amor quem ama o dinheiro. Veja se ama o amor quem teme pelo próprio futuro, num apego desmedido à própria vida.
Amar o amor exige desapego total de si e de tudo o que se julga possuir. Exige estar pobre e nu diante da riqueza do amor em si, riqueza que torna espúrio e ridículo tudo o que há no mundo.
Amai o amor, como se ama o que há de mais sagrado. O amor é a única riqueza que se deve buscar no mundo. E se reparares bem, tu és aquilo que escolheste para amar.
Compreenda que quando Agostinho disse: "Ame, e fazes o que quiseres" ele não estava ensinando uma regra de vida licenciosa. Ele estava ensinando que a única lei que existe para o cristão é o amor e que ele encerra toda a verdadeira justiça. De igual modo Kierkegaard nas obras do amor falava que o cristianismo é a religião que ensina que devemos amar, ou seja, que para o cristão o amor é um imperativo, um dever.
Como o amor pode ser um dever? Se pergunta Kierkegaard? Como amar o próximo como amo meus filhos?
Isso não seria impossível?
Não se deve desistir de buscar as impossibilidades, porque se tivermos de nos contentar com as possibilidades jamais colocaremos mais amor no mundo.
No fundo sabemos que essa é uma regra de simples compreensão, que talvez seja o único universal e no entanto, ela é de uma impossibilidade de cumprimento.
A filosofia é um amor, amor ao conhecimento. Por isso ela é um desdobramento do amor ao amor, pois amar o amor exige amar a verdade.
Mas isso, é papo para outra hora...
Rochelle Cysne


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